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Origame, a arte de dobrar papel
Jane M. Godoy B. - 2012

         O exercício do origame, a arte milenar japonesa, é um caminho criativo na direção do equilíbrio entre lógica e intuição. As figuras obtidas através das dobras do papel representam uma simplificação das formas reduzidas a sua essência. Captamos o essencial de animais, plantas e objetos, ao mesmo tempo que concentramos nossa atenção no jogo composto por linhas, encaixes, cores e multiplicação de formas criando novas realidades.
         No exercício do origame nossa atenção é exigida de forma constante ajudando a desenvolver atenção e concentração de forma lúdica. Trabalhando simultaneamente os lados direito (intuição) e esquerdo (lógica) do cérebro, favorece o desenvolvimento harmônico da capacidade de pensar e criar; promove e estimula a criatividade; ativa a memória e percepção tridimensional; desenvolve a imaginação. Suas qualidades incluem ainda o desenvolvimento da motricidade fina, sendo indicado para todas as idades, mas especialmente para crianças e adultos que necessitam exercitar as mãos para manter ou desenvolver habilidade manual.
Por todas estas características, a prática do origame constitui-se numa atividade terapêutica valiosa como recurso para aquietar a mente, gerando espaço para reforçar a criatividade e a autoestima.



A história do Origame

A origem exata do origami é desconhecida, mas acredita-se que tenha surgido como uma decorrência natural da invenção e divulgação do papel, e ainda segundo alguns pesquisadores está relacionada com um costume ou crença religiosa de épocas passadas. 
      Não se sabe quem foi o criador de muitos origamis, pois muitos deles foram passados por várias pessoas até a forma final. Isto ocorreu com a criação do "orizuru", e acredita-se que esta era a essência do origami, a união de várias pessoas para a criação. Pode-se dizer que estes origamis são uma das heranças peculiares mais antigas do país.
 Não há dúvidas de que o origami se desenvolveu no Japão e, mesmo sendo desenvolvido também em outros países o nome origami, literalmente “dobrar papel” - é compreendido em todo lugar. 
      Segundo alguns estudiosos as primeiras figuras de origami surgiram na antigüidade, por volta do século VI, quando um monge budista trouxe para o Japão o método de fabricação do papel da China, via Coréia, onde até então não era conhecido.
 
      Nesta época, quando o Estado e a religião eram um só (Seisei itchi), os origamis representavam a natureza das cerimônias religiosas. Dizem que foram utilizados para transmitir ou registrar a intenção da cerimônia religiosa. Porém, estes origamis eram uma mistura de origami com kirigami, que é a arte de formar figuras através de recortes de papéis. Eram confeccionados utilizando-se papéis manufaturados especialmente para o uso dos sacerdotes xintoístas.
 
      Recortavam-se os papéis quadrados ou retângulos em forma de raio, dobrando-se a seguir em formato de tempo, ou de nusa ou shide, objetos utilizados durante as cerimônias. E ainda, nos Katashiro utilizado em harai, bonecos de papel utilizados no Hinamatsuri (festival das bonecas), o monkirigata que é o protótipo do emblema, todos eles eram feitos seguindo o método kirikomiorigami, que quer dizer origami com recortes.
  "Os katashiro são, ainda hoje, colocados nos templos xintoístas no lugar da divindade, tomando a sua forma. O mais antigo katashiro de origami se encontra no Ise Jingu, província de Mie, portanto se diz que a história do origami é tão antiga quanto a história do Japão."(Kanegae,1988) 

      Estes tipos de origami são considerados um clássico da arte, e vêm sendo ensinados até hoje aos alunos na Escola Ogasawara de etiquetas.
 Outro origami formal utilizado até os dias de hoje é o noshi, um ornamento colocado sobre o embrulho de presente, significando que a pessoa deseja muita fortuna para a pessoa presenteada. Os japoneses diziam que todo presente deveria ser embrulhado em papel puramente branco, e como não é possível, utilizasse o noshi simbolizando este branco do costume japonês. Os japoneses consideram o branco como algo sagrado. Dizem que no mundo os japoneses e coreanos são os únicos povos que adoram o branco. 
        Se formos analisar o conceito do origami dá-nos a impressão de ser algo fácil e simples, mas os princípios básicos ditam que o origami deve ser confeccionado a partir de um papel plano, bidimensional, a fim de que o resultado seja um objeto com três dimensões. Isto ainda sem utilizar-se de outros materiais como tesoura, cola ou similares.
 A partir do século XVII, estas rígidas regras foram um pouco alteradas, dando a liberdade de se utilizar pequenos cortes no início do trabalho.
        O origami recreativo, praticado atualmente, teve origem na Era Heian (794-1192), época em que o origami deixa de ser formal para ser mais recreativo, evoluindo para as formas de garças, barco e bonecas.
 Segundo pesquisador conceituado das origens do origami, professor Massao Okamura de 65 anos, o origami teve início no século XVII pelos samurais. Foram eles que deram os primeiros passos para o formato dos origamis atuais. E o interessante, é que ao contrário dos dias de hoje, em que o origami é visto como uma atividade infantil, até meados do início do século XIX, era considerado como um passatempo divertido e interessante restrito aos adultos, principalmente devido ao valor muito caro da matéria-prima. 

      A partir da fabricação do papel no Japão, a população japonesa passa a conhecer e aprimorar o origami, e transmitindo de pai para filho.
 Durante a Era Edo (1590-1868), o origami passa a ser praticado principalmente pelas mulheres e crianças independente da classe social. Até o final desta era, foram criados aproximadamente setenta tipos de origami, tais como o "tsuru"(conhecida também como cegonha e grou), sapo, íris, lírio, navio, cesta, balão, homem, etc. Estes receberam a denominação de origami, "origaka", "orisue", "tatami-gami", etc. 

      Na era Meiji (1868-1912) o origami voltou a ser ensinado nas escolas, após sofrer grandes influências do método de origami alemão. Isto porque o origami floresceu no Japão em outros países também ocorreu o mesmo, como na Espanha, onde os primeiros origamis foram introduzidos pelos Mouros no século VIII.
 

      Os origamis de origem ocidental apresentavam as formas geométricas como característica predominante, enquanto que as do Japão sempre foram mais figurativas, ou seja, imitando formas de animais, pessoas, flores, etc. Por este motivo em uma determinada época o origami foi bastante criticado, pois acreditava-se que era uma arte imitativa, mas só com o tempo que se provou o contrário.
 

      Há um registro de que no século XVIII, um grupo de japoneses se apresentaram em Paris, demonstrando vários origamis, como o tradicional Tsuru. Como fruto deste intercâmbio, em 1886, surgiu na literatura inglesa o origami de um pássaro voando.
 Enquanto o intercâmbio internacional tornava o origami conhecido em todo o mundo, após a I Guerra Mundial as aulas de origami foram eliminadas das escolas japonesas, alegando que eram consideradas não-didáticas para o sistema educacional. Este tema ainda vem sendo discutido, pois depois desta retirada o origami se tornou restrito a crianças e ambientes familiares.

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Fontes: 1.Revista Planeta nº 36 de janeiro de 2004.
            Art. De Milton Correia Júnior sobre origame de Alzira Cattoni.
                2. Artigos da Internet

Foto: Foto e Origame de Jane M. Godoy B.



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